09 _O que dizer, perguntar e fazer

Aqui ficam algumas sugestões simples para dizer, perguntar e fazer, que podem ajudar a orientá-lo/a

  • Primeiro, organize-se para se encontrar com a pessoa (por exemplo, convide-a para um passeio ou um café).

Se a pessoa for autista, procure perceber como gosta de comunicar e espelhe esse estilo (ou seja, mensagens de texto, telefonemas, encontros num parque; de manhã em vez de à tarde).


DIZER (para mostrar que reparou e que se preocupa):

 “Tem-se passado muita coisa contigo ultimamente, com [INSERIR ADVERTÊNCIA/FACTOR DE RISCO] (por exemplo, perder o emprego)”. Isto mostra que reparou.

Depois, mostre que se preocupa, dizendo algo empático e compassivo:

“Deve ser difícil. Qualquer outra pessoa que estivesse a passar por isso acharia complicado.”


PERGUNTAR (diretamente sobre o suicídio):

“Quando as pessoas passam por X (por exemplo, uma perda), podem ter pensamentos sobre pôr termo à vida. Pergunto-me se já pensaste em suicídio."

 

As pessoas autistas podem não compreender a intenção das suas perguntas indiretas e podem beneficiar de uma abordagem direta: "Tens pensado em suicídio?”

Muitas vezes, as pessoas autistas dizem: “Como é que sabes aquilo por que estou a passar, se não és autista?” Criar uma ligação com essa pessoa é mais importante do que as palavras usadas. A abordagem deve ser calma, sem julgamentos nem pressão. Algo como: "Claro que nunca poderei compreender o que é ser autista nem nunca poderei compreender o que estás a viver - mas estou aqui para ti, ouço o que estás a dizer, estás a passar por uma fase muito difícil neste momento."

Se sim, pergunte se já pensaram em como, onde e quando, e se sentem dificuldade em não agir de acordo com esses pensamentos.

Se sim, mantenha-os em segurança:

AGORA: Leve a pessoa a uma consulta médica o mais rapidamente possível para que seja criada uma equipa de cuidados de saúde mental e certifique-se de que ela recebe apoio até lá. Não a deixe sozinha e retire tudo o que ela possa utilizar para fazer mal a si própria. Se não puder ficar com ela, chame um amigo ou familiar para o ajudar. Pergunte-lhe se pode prometer não se magoar durante uma hora e depois durante um dia. Se a pessoa não conseguir manter-se em segurança nesse dia, leve-a ao hospital. Ligue para o 112 em caso de emergência ou se a pessoa sair e não conseguir contactá-la. Consulte a linha SNS 24 (808 24 24 24) para obter aconselhamento.

FUTURO: Pode fazer com elas um plano de segurança utilizando a aplicação BeyondBlue para smartphone: BeyondNow (versão Apple: https://tools.toolle.com/au/tool/beyondnow-suicide-safety-plan/id1059270058 ou versão Google Play: https://play.google.com/store/tools/details?id=au.org.beyondblue.beyondnow). Esta aplicação disponibiliza um plano, passo a passo, do que fazer em caso de ideação suicida, contendo propostas sobre como lidar com a situação e a quem contactar. [Esta aplicação não está disponível em Portugal]

Se não, continue a ouvir. Não tem de resolver nada, basta que dê espaço para a pessoa falar. Se ela não estiver a pensar em suicídio, pode sempre ser uma oportunidade para lhe dizer o que o preocupou e para lhe mostrar que é alguém com quem ela pode falar, se as coisas ficarem difíceis. 

As pessoas autistas podem ter mais dificuldade em identificar ou expressar os seus sentimentos e emoções. Sempre que possível, espelhe o seu estilo de comunicação e use o meio que preferem. Pode perguntar-lhes se gostariam de desenhar ou escrever o que estão a sentir ou aquilo em que estão a pensar. Talvez precisem apenas que esteja com eles ou perto deles.


FAZER (apoiar e incentivar a procura de ajuda):

  • Ajude-a a marcar consulta com o seu médico e/ou de aconselhamento e ofereça-se para o/a acompanhar.

 
  • Isto é especialmente importante se a pessoa for autista, pois pode sentir ansiedade e não conseguir fazer chamadas telefónicas nem comunicar as suas necessidades,e ter acesso limitado a transportes e serviços de apoio, entre outros.
  •  
  • Identificar profissionais com experiência em autismo ou autistas.
  •  Falar sobre o que podem esperar das consultas de apoio, que tipo de assuntos devem ser abordados e que perguntas lhes podem ser feitas.
  • Ajude-os a encontrar um serviço médico neuroafirmativo: Associação Portuguesa Voz do Autista
  • Ajude-os a encontrar um serviço médico LGBTIQA+ inclusivo
  • Pergunte-lhes qual é a sua maior necessidade no momento.

 

Algumas pessoas autistas podem beneficiar de um conforto físico (por exemplo, um abraço) ou de outros estímulos sensoriais/toque. Outras podem necessitar de menos estímulos. Pergunte à pessoa o que é mais útil para ela. Outras sugestões incluem reduzir o ruído (afaste-se ou dê-lhe auscultadores com cancelamento de ruído), e a luz (baixe os estores, diminua ou apague as luzes, dê-lhe um chapéu ou óculos de sol).

  • Incentive a autocompaixão e a que sejam gentis consigo próprios. A ideação suicida pode ser o resultado de um sentimento de fracasso, inutilidade, falta de valor, etc. 

  • Pergunte-lhes se chamariam ao seu melhor amigo ou animal de estimação de "inúteis", se estivessem na mesma situação. Pergunte-lhes o que diriam em vez disso e incentive-os a aplicá-lo a si próprios. 

  • Encoraje-os a falar com a família, amigos, treinador ou chefe. 

  • Acompanhe-os e observe como estão. Um apoio pontual não é suficiente. O sofrimento psicológico das pessoas é muitas vezes contínuo e é muito importante para elas que as voltem a contactar mais tarde. Se isso não acontecer, sentem-se esquecidas, negligenciadas e que os outros esperam que elas continuem a sua vida, apesar de continuarem angustiadas. 

  • Diga-lhes que há muitas coisas que podem ser feitas para lhes aliviar a angústia.

 
  • Seja um aliado visível e ativo.
  • Ajude-os a encontrar serviços acolhedores da comunidade LGBTIQA+.
  • Aprenda sobre a diversidade e celebre-a. 

SABER o que NÃO dizer/perguntar/fazer:

NÃO FAZER:

  • Esquecer-se de verificar ou fazer o acompanhamento.

  • Envolver-se demasiado. Em vez disso, assuma o papel de líder de claque ou treinador, mas a partir da linha lateral.

  • Reagir com choque, raiva ou frustração. 

  • Falar sobre métodos ou locais de outros suicídios (isto pode aumentar o risco).

    •  Não faz mal perguntar-lhes se pensaram em métodos ou locais, mas não lhes dê pormenores específicos sobre outros métodos ou locais de suicídio. 

NÃO PERGUNTAR:

  • Não vais fazer nenhuma estupidez, pois não?

  • Que motivos tens para estar triste?

  • Só tens .... anos de idade. O que é que te pode fazer ficar tão triste?

NÃO DIZER:

  • Eu sei como te sentes.

  • Não te preocupes tanto.

  • Não é assim tão mau.

  • Tenta apenas...

  • Devias...

  • Pensa nos aspetos positivos.

  • Outros passam por coisas piores.

  • Tenta ver o “lado bom”.

  • Tem calma.


Como FALAR E ESCUTAR:

Incentivar o Diálogo

  • O que é que se passa contigo?

  • Há quanto tempo te sentes assim?

  • O que tem aumentado o teu stress ultimamente?

 
     A linguagem tem de ser adaptada à pessoa. Utilize o seu estilo de discurso e corresponda à sua comunicação não verbal.

Como Escutar

O seu papel não é o de resolver os problemas que as pessoas estão a enfrentar. O simples facto de ouvi-las e validar o que sentem pode aliviar o seu sofrimento. O que elas precisam é de se sentir vistas, ouvidas, e validadas quanto aos seus sentimentos e preocupações. Depois, é importante certificar-se de que têm apoio contínuo, seja seu, da família, de amigos ou de profissionais. Não pode ser um apoio pontual. Deve dizer coisas, como:

  • Estou a ver que isto é difícil. 

  • Parece que estás a ficar assoberbada/o.

  • Não há mal em chorar. 

  • Não faz mal estares zangada/o. 

  • Faz sentido que te estejas a sentir-te para baixo.

  • Isto deve ser difícil.

  • Percebo porque te sentes tão em baixo.

  • Estou a ouvir-te. 

  • Isto é difícil e qualquer outra pessoa que estivesse a passar por isto também teria dificuldades.

  • Talvez não saiba como ajudar, mas preocupo-me e estou aqui.

  • Não estás sozinho/a.

  • És importante e a tua vida também.

  • Estou aqui para te escutar.

  • Como te posso apoiar?

 
   A linguagem tem de se adequar à pessoa. Utilize o estilo de conversa da pessoa, por exemplo, ‘Percebo porque é que estás passado/a’.
    Pergunte-lhe sobre os seus interesses.

DAR-LHES ALTERNATIVAS À AUTOAGRESSÃO:

  • Rasgar papel

  • Pôr música a tocar bem alto 

  • Comer malaguetas. 

  • Chupar gelo.

  • Falar sobre o que o/a está a incomodar 

  • Limpar algo.

  • Escrever uma lista de afazeres.

  • Fazer uma pausa nas responsabilidades. 

Ideias de pessoas autistas para lidar com a angústia:

  • Atividades criativas: escrever, desenhar, pintar, compor.

  • Jogos de vídeo.

  • Passar tempo com um animal.

  • Falar com alguém que compreenda. 

  • Passar tempo na natureza. 

  • Ler o seu livro preferido.

  • Ver os seus programas de televisão preferidos.

  • Solidariedade (por exemplo, voluntariado).

As melhores formas de apoiar pessoas autistas quando estão angustiadas:

  • Deve dar tempo suficiente para poderem pensar e responder - sem os apressar.

  • Comunicação clara e direta. 

  • Não forçar o contacto visual. 

  • Não impeça a pessoa de se mexer, exceto se for mesmo necessário por razões de segurança (por exemplo, se ela estiver a bater com a cabeça, não a imobilize, mas coloque uma almofada na trajetória).

  • Reduza os estímulos (ruído, luzes fortes).

  • Pergunte à pessoa o que ela necessita: que se aproxime ou se afaste, se precisa de um abraço ou se quer que se sente perto dela.


Apoio a LONGO PRAZO:

1. REDUZIR O STRESS

  • Reduzir os compromissos e os fatores de stress sempre que possível/relevante. Ideias:

    • Abandonar uma disciplina universitária.

    • Apoiar a pessoa com um alojamento estável. 

    • Resolver o stress financeiro. 

    • Tirar uma licença do trabalho. 

    • Fazer uma pausa nas tarefas de cozinha, limpar a casa ou tomar decisões.

 
  • Obter o apoio para as pessoas com deficiência na universidade (por exemplo, mais tempo para os exames, prolongamento dos trabalhos e a possibilidade de realizar os exames sozinho/a numa sala).
  • A terapia de exposição com um profissional, que lhes permita desenvolver tarefas e aumentar a resiliência, pode ser útil.
  •  Reduzir o horário de trabalho.
  • Permitir pausas mais longas no trabalho.
  • Reduzir o número de atividades sociais por semana.
  • É possível que as pessoas já tenham tentado estas medidas sem sucesso. Por exemplo, é possível que não disponham de apoio suficiente na universidade e que o trabalho não lhes permita ter dias mais curtos. Veja se existem formas mais adequadas de apoiá-las (por exemplo, apoio da comunidade, apoio de pares, médico de clínica geral, psicólogo, psiquiatra, assistente social, outros apoios de médicos aliados e advocacia).

2. ALARGAR AS CONEXÕES

  • Aumentar o apoio social. Ideias:

    • Juntar-se a um grupo comunitário: por exemplo, desporto de equipa. 

    • Juntar-se a um clube: clube de leitura, grupo de jogos de tabuleiro, grupo de caminhada. 

    • Juntar-se a um grupo online com pessoas que pensam da mesma maneira ou para obter apoio, por exemplo, 

      • Facebook: procure grupos de apoio para ‘mães solteiras’, ‘pais divorciados’, ‘veteranos’

 
  • Facebook: procurar grupos de apoio para ‘mães lésbicas’, ‘pais homossexuais’, ‘pais não biológicos’, ‘jovens transgénero’, ‘sistergirls e brotherboys
 
  • Facebook: procurar grupos de apoio para ‘adultos autistas’, ‘adultos com PHDA’
  • Juntar-se a um NDIS [National Disability Insurence Scheme - algo que não existe em Portugal, mas que vale a pena conhecer] ou a outro grupo social: bowling, caminhadas.
  • Identificar e estabelecer contacto com grupos sociais locais de autismo, ou com grupos sociais em áreas de interesse (por exemplo, fotografia, corrida, jogos...)

3. REFORÇAR O SENTIDO/PROPÓSITO

  • Emprego, voluntariado, estudos.

 
  • O mais importante é que estes correspondam aos pontos fortes e interesses da pessoa.
  • Podem ser considerados certos tipos de emprego, concretos e práticos, tais como: bibliotecário, informático, cientista, introdução de dados, trabalho com animais, trabalhos criativos (por exemplo, arquitetura, animação, design de videojogos), contabilidade, trabalho de rotina (caixa, reposição de stock, embalagem, armazenamento), condução de autocarros.
  • Tornar-se um ativista e ajudar os outros.
  • Fazer voluntariado, por exemplo, em centros de apoio social.
  • Juntar-se a um grupo de apoio à comunidade autista ou a uma atividade específica, como equitação para pessoas com deficiência.
  • Encontrar locais onde possa crescer em termos de identidade, competências, autonomia e relacionamento (consulte APVA - Associação Portuguesa Voz do Autista).
 
  • Tornar-se um advocate e apoiar os outros, especialmente os jovens.

4. INCREMENTAR A ATIVIDADE

  • Desporto, ioga e passatempos.

  • Descubra os seus interesses especiais e encoraje-os a procurar grupos de interesse online ou presenciais, ou formas de se empenharem mais nesses interesses.

5. MELHORAR A SAÚDE

  • Melhorar a alimentação, o sono e o exercício físico. 

  • Reduzir o consumo de álcool e de drogas.

 
  •  Descobrir e seguir paixões e interesses.
  •   Incentivar pausas sensoriais e momentos de relaxamento para reduzir a sobrecarga e a exaustão:
  •   Usar auscultadores com cancelamento de ruído.
  •   Usar auscultadores com cancelamento de ruído.
  •  Consulte um terapeuta ocupacional para obter mais ideias sobre o apaziguamento sensorial pessoal.

  AUMENTAR A ADVOCACIA

Ajude-os a explorar as opções de apoio à deficiência através da Segurança Social, se forem elegíveis e ainda não o tiverem feito.

Coloque-os em contacto com um serviço de emprego para pessoas com deficiência, a fim de os ajudar a encontrar um objetivo e um significado, seja numa posição de voluntariado ou de emprego num ambiente de apoio.

Se estiverem a ser vítimas de bullying, leve isso a sério. Caso estejam em idade escolar, marque uma reunião com a escola e os pais para discutir um plano de apoio ao aluno. Ajude o aluno a fazer mais amizades na escola através de atividades de apoio às amizades. Se for um adulto num local de trabalho ou numa universidade, marque uma reunião com o seu diretor, diretor de RH, mentores de estudantes, etc., para planear uma forma de apoio.

Aprender Língua Gestual também pode ser uma boa forma de comunicar quando alguém teve um shutdown ou está em burnout e com dificuldades em comunicar.